O mundo viveu circunstâncias excecionais devido à pandemia, em que a rotina social foi radicalmente alterada. Tal como referem Corres e Santamaría (2020), “o contexto de isolamento resultante da pandemia proporcionou uma mudança muito negativa na atitude das crianças a nível académico, físico, social e emocional” (p. 67).
Este isolamento social tem um grande impacto psicológico nos alunos, resultando em stress, como afirmam Echevarría et al. (2020). Pode também afetar gravemente os ambientes de aprendizagem das pessoas com necessidades educativas específicas (Aylin e Bermúdez, 2020). Especificamente, os alunos no espetro do autismo podem ser particularmente afetados por esta situação (Muñoz, 2021).
De acordo com o DSM-5, o autismo é uma condição do neurodesenvolvimento caracterizada por dificuldades persistentes na comunicação e interação social e por padrões restritivos e repetitivos de comportamento, interesses ou atividades (American Psychiatric Association, 2013).
Devido a situações de isolamento, todas as dificuldades relacionadas com a planificação do tempo, flexibilidade, de organização, ou de alterações de rotinas e interesses restritos podem aumentar, levando a problemas comportamentais (Echevarría et al, 2020). Por conseguinte, os alunos autistas são particularmente preocupantes entre as populações vulneráveis, como salienta Muñoz (2021), “uma vez que os indivíduos no espetro do autismo podem sentir-se stressados, ansiosos ou confusos se ocorrerem mudanças imprevisíveis ou complexas” (Echevarría et al, 2020).
Devido a estas situações, a existência de um fosso digital foi salientada mesmo entre as próprias pessoas autistas. Enquanto algumas pessoas autistas conseguem receber formação e apoio em casa através de recursos digitais, outras com maiores necessidades de apoio não têm conseguido receber esse apoio devido a dificuldades no acesso a estes recursos. Esta lacuna tem consequências negativas para o seu processo educativo e de aprendizagem.
Assim, e devido a estas barreiras, nasceu o projeto IDEAL (Educação Digital Inclusiva para a Aprendizagem de Pessoas Autistas) (re. KA220-VET-97F54FA7), cujo principal objetivo é eliminar a lacuna digital de que sofrem as pessoas autistas, facilitando o acesso autónomo e equitativo às tecnologias digitais que garantem a continuidade do seu processo educativo e do seu ambiente social, mesmo em situações de isolamento. Será criado um sistema de gestão de aprendizagem que incluirá requisitos de acessibilidade e formações digitais numa plataforma destinada a alunos autistas, às suas famílias e aos profissionais de educação.
O consórcio deste projeto é constituído por 7 organizações de 5 países diferentes: Fundación Miradas (Burgos, Espanha), Universidade de Burgos (Burgos, Espanha), Fondacija Hiljadu Zelja (Sérvia), Autism-Europe (Bélgica), Abadía Tecnológica D.L. (Burgos, Espanha), Tady to mám rád, z.s. (República Checa) e FPDA-Federação Portuguesa de Autismo (Portugal).
Referências
Corres I., y Santamaría, I. (2020). Infancias vulneradas en tiempos de aislamientos social. Norte de salud mental 17(63), 67-70. https://dialnet.unirioja.es/servlet/articulo?codigo=7553719
Echevarría, I., et al. (2020). Trastorno del espectro autista: pautas para el manejo durante el periodo de aislamiento social por el coronavirus (Covid-19). Cuadernos de Neuropsicología 14(35), 37. https://dialnet.unirioja.es/servlet/articulo?codigo=7485435
Aylin M., y Bermúdez R. (2020). La socialización en el niño con autismo: retos para la educación familiar, en tiempos de aislamiento social. Revista Mapa 1(21), 3. https://revistamapa.org/index.php/es/article/view/215
Muñoz J. (2021). Autismo y Covid-19: Desafíos educativos y reflexiones en la Venezuela actual. Revista Educare, 25(3), 457-461. https://dialnet.unirioja.es/servlet/articulo?codigo=8223256
American Psychiatric Association. (2013). Guía de consulta de los criterios diagnósticos del DSM-5. DSM V (5a. Ed). 28-31. https://www.eafit.edu.co/ninos/reddelaspreguntas/Documents/dsm-vguia-consulta-manual-diagnostico-estadistico-trastornos-mentales.pdf